Ás vezes, quando estendo meus pensamentos no varal, nas manhãs de julho, com o frio pincelando as imagens, pinto todos os retratos que, sorrindo acariciam meus olhos, num beijo de saudade por ter vivido justamente assim.

sábado, 26 de março de 2011

Ensaio Doméstico

O prato azul, acostumado com a prateleira, voou.
Foram noventa e sete anos passado de mãos em mãos.
Desde a primeira que o pegou, foi ocupado...
apreciado...
Restava ainda nas lembranças de outros o cheiro de sabão feito com cinza, apesar de já ter sido lavado com detergente de limão.
Quantas macarronadas,
feijoadas,
risotos servidos!
Delícias da tataravó Flora.
Agora, sombras de seu esqueleto passeiam na pá do lixo.
Enrolado nas folhas de jornal
- muito enrolado.
Colocado num saco.
Nunca feriu alguém, não poderia ser agora.
Histórias passadas, penduradas na grade do muro.

Cadeira- Mostra: O que Sobrou do Almoço

quarta-feira, 23 de março de 2011

domingo, 20 de março de 2011

Um Caminho que Percorri

Acordei na certeza de ter aceito o convite.
Seria um ponto de referência: com certeza chegara em boa hora.
Talvez fosse chegado o momento para
conseguir respostas a perguntas tão constantes.
Coloquei-me em frente ao espelho, vendo
pronta uma imagem ansiosa para o encontro na mata.
Quando cheguei ao local, deslumbrada com a natureza estendendo toda sua majestade inteira para mim, perdi meu pensamento . Ele foi ao longe, anunciando
minha chegada para a procura misteriosa de um certo convite.
Naquele instante, ocorreu-me não lembrar
quem o teria feito, nem como o teria aceito.
Para não perder o encanto, passei a explorar o lugar fazendo-me de curiosa,
tentando afastar certa preocupação que
começava a inquietar meus ouvidos com
ruídos estranhos, sem que meus olhos
percebessem ninguém.
Veio o anoitecer. Veio a alta noite.
Perdi-me e ninguém apareceu.
Comecei a caminhar por entre a mata numa escuridão única sem saber a que lugar chegaria,
pois não havia lugar algum para chegar.
Por momento, o medo tornara-se maior que eu.Esbarrava em meio a tantas
folhagens e galhos, sentindo ferirem meu corpo, parecendo-me ser presa fácil.
Quando me libertei do embaraço, ao longe, avistei a luz.
Único sinal de direção. Passei a caminhar, depois a correr, correr sem olhar
para trás. Por mais que tentasse alcançar o rumo, não conseguia.
Cansada, sentei-me. Como a uma ordem, olhei para trás e lá estava ela - a luz.
Fiquei sem entender como era possível tamanha mudança de lugar.
Então percebi: a luz era reflexo do meu olhar a minha procura.

sábado, 12 de março de 2011

terça-feira, 8 de março de 2011

quinta-feira, 3 de março de 2011

Para Sempre

Quando a noite chega,
conta-me seus segredos,
todos tão quietos.
Abraço-os lentamente e
lanço-lhes meu beijo num
entendimento que não julgo,
apenas sinto.
Os segredos necessitam passear...
Sentir o suave toque para, na libertação, desabafar os cheiros contidos, tão bem guardados.
Assim, a noite quando descansa
deixa no ar o perfume...
E, ao respirar profundo,
gotas do sereno descem na ladeira da boca, fazendo os segredos nascerem no sorriso dos olhos, dirigindo-se aos céus em forma de estrelas,
guiando em segurança todos os viajores que acompanham
a noite em caminhadas sem fim...