Ás vezes, quando estendo meus pensamentos no varal, nas manhãs de julho, com o frio pincelando as imagens, pinto todos os retratos que, sorrindo acariciam meus olhos, num beijo de saudade por ter vivido justamente assim.

sábado, 29 de outubro de 2011

De Rosto Colado

De rosto colado

Marilda Wolff

Corre o braço pela cintura. Dançam de rosto colado. Nenhuma palavra. Somente a música os faz falar. Seus passos sincronizados são observados por todos no baile.

Alguns dançantes até chegam a tropeçar em seus próprios pés ao olhar o casal de branco, como pluma a flutuar. Eles nunca pa­ram. Vários casais, outros avulsos, de quando em quando, descan­sam entre um gole e outro.

O casal de branco, em silêncio, num vai-e-vem, faz debruçar na mesa aqueles não muito dotados para a dança. Ela gira. Uma. Duas. Três, e volta a cair doce nos braços do homem, que, nova­mente, corre o braço pela cintura e dançam de rosto colado.

Olhares vigilantes tentam se aproximar, imitar os passos, mas nada. Com a mente já um tanto embebida, grita o jovem:

São contratados para animar os convidados!

Que nada!, grita outro. São dois esnobes que ninguém nunca viu por aqui.

Os abusos os fazem chegar até eles.

Hei, estranhos, parem!

Conhaque, conversa e riso. Isso também é diversão. Nem ou­vem. Continuam a dançar de rosto colado. Casais resolvem fazer competição. Alguns apostam que irão aguentar em passos firmes o ritmo "dos de branco", como começaram a chamá-los. Pouco a pouco, foram desistindo. E todos se importam: na verdade, já ha­via virado provocação. Eles dançam.

Casais de meia idade pensam que é hora de irem embora, le­var suas filhas, mas todas só ficam ali, olhando. Torna-se fixação. E o desejo nasce. Dançar como a mulher de branco, ter um par como a mulher de branco. A música continua a tocar e os sussur­ros parecem um coro, e, em meio a todo tumulto, eles continuam a dançar.

As ancas da mulher! Que ancas! Deixavam nervosos todos aqueles desacompanhados e acompanhados, numa inveja a espir­rar pelos cotovelos.

As meninas cansadas de estarem sentadas, pregadas nas cadei­ras pensavam: "Idiotas, ficam olhando a mulher de branco. Que­rem a mulher de branco". E os idiotas, ali encostados pelos can­tos, pensavam: "Estas meninas idiotas ficam olhando o homem de branco. Querem o homem de branco".

E o casal em silêncio dança.

Ninguém mais dança. Todos se perguntam: "Quem são eles"? Ninguém os conhece.

Quem os convidou?

Não sei. Já perguntei a tantos.

Viraram a lista de convidados. Nenhum nome desconhecido.

Ninguém os havia indicado. Quanta loucura por causa de um casal de penetras.

Quantos vestidos feitos para desfilar, com seus brilhos eston­teantes indo ao encontro de tantos ternos italianos e o casal de branco que brilha? Não é justo.

O amanhecer anunciava a última música. Vibram. Vibram mui­to. A música para.

Corre o braço pela cintura. Aperta-a. Dançam de rosto colado, em silêncio.

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BIBLIOGRAFIA: Schroeder, Carlos Henrique (Org.) Calígrafo Oriental – Coleção Caderno de Autoria | vol.28 – SESC, Lages/SC, 2009.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Para que os olhos não esqueçam!


Pintarei meus sonhos sem medo.
Olharei os riscos e vou saber o
sentido de cada um...

domingo, 23 de outubro de 2011

Mesmo que Chova

Não quero chorar minhas falhas.
Necessito sorrir o choro por
minhas descobertas, e não intimidar a coragem
para segui-las.
Mesmo que chore forte o choro lá fora, transformo o barulho pesado no telhado numa sinfonia harmoniosa,
caindo lenta, à medida que canta aos meus ouvidos
pingos de espera para outro esperar.
É um repouso para se pensar que toda corrida ocorre conforme deixamos
vazar pelas fendas,
espiando nos momentos em que
acontecem essas transformações...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

quarta-feira, 12 de outubro de 2011